se quiserem nos matar
precisarão começar pelos nossos
corpos, que a bala
varre, que a fome
come, disponíveis, sim, ainda que a gente
dificulte grite se junte
ao murro
seco da corporação
mas logo depois teriam
que matar
o que restou,
a mancha de vida a marca do corpo a
sombra a memória que grita duas vezes
mais,
espalha trezentos
metros mais,
e o cacete não pega não adianta
o decreto não segura
a censura multiplica
e se soltam
do céu bombas
negras cápsulas
de chumbo frio
que contém
latente
o final
isso que restou salta ao ar:
são trapezistas cintilantes, aves
prenhes de sonho, girassóis e nomes
corpos vozes e nós – nada
se apaga
um material estranho
que contamina a terra
a partir do sopro
da explosão