é, faz sentido que seja difícil acreditar no que viu um menino mesmo se dessa vez se trata de um Circo e mesmo se dessa vez se trata de um menino sem pais: e que por isso não precisa esconder que saiu sozinho, não precisa mentir nada: o jeito que ele conta parece mesmo muito sincero, acho que podemos acreditar nele, é justo que para aqueles que perderam tanto venha algo assim em compensação, um menino que perdeu os pais tem muito mais direito de encontrar na borda da cidade súbito assim ele e sua bicicleta, os dois súbitos um Circo. para quem nunca esteve sozinho ou nunca precisou explicar o mundo pra si mesmo ou nunca tropeçou e se ralou e sangrou e não teve quem acudisse ou quem já cresceu demais e não anda mais de bicicleta à noite entre ventos e silêncios: para essas pessoas não faz sentido não é fatalmente necessário encontrar de repente um Circo.
talvez por isso é que aquele menino sem nome e sem ordens deixou a bicicleta no canto da rua poeirenta entre passos e pessoas: muitos: feito toda a rua tivesse saído de dentro das casas porque alguma coisa chamava, debaixo daquelas nuvens que escondiam uma lua prateada, lua que derramava prata nos prédios, lua que cobria de prata o asfalto, ó lua, mas por fim ninguém viu para onde ele olhava arrebatado admirado espantado em êxtase e surpresa e basicamente um grande uau reverberando em seu corpo todo, seu todo corpo pequeno, seu todo corpo que não sabia e não pretendia saber.